29. A VOLTA AO BRASIL
(fatos ocorridos entre 1965 e 1966)

          Só quando nós conhecemos um país do primeiro mundo é que enxergamos as vergonhas nacionais. Saindo de Roma, depois de uma escala em Dakar (que calor horroroso) cheguei ao Rio de Janeiro e, no carro do meu pai, nos dirigimos a Copacabana pela Avenida Brasil... Só então fui reparar como era feia e fedorenta aquela parte da cidade, credo! Engraçado foi que meu pai não me reconheceu no aeroporto, eu estava com o cabelo batendo nas costas (afinal eu me considerava hippie) e tive que chamar a sua atenção para que ele me visse. Além de cabeludo eu estava carregando um cachorrinho italiano (de minha prima, que voltou comigo) e muitos pacotes e casacos (saí de -10º para +40º). O pior é que naquela época a gente descia do avião a dezenas de metros do aeroporto e tínhamos que fazer o percurso a pé, ufa!

          O lado paterno de minha família havia me deixado uma grande herança musical, todos tocavam algum instrumento (meu pai tocava sax em mi bemol) e meu avo era maestro da banda da cidade. Minha irmã tocava violão e eu, que sempre fui maluco por música, não tocava instrumento algum. Bem que meus pais tentaram, do piano ao acordeon, mas aqueles instrumentos não tinham nada a ver comigo. Mas eu precisava fazer alguma coisa, um dia ainda tocaria um instrumento.

          Foi então que um amigo, que era baterista amador, sugeriu: Porque não tenta a bateria? É fácil e super legal... Economizei cada tostão que pude até comprar uma bateria, aí esse amigo foi lá em casa e me ensinou o básico da coisa. Logo arrumei dois amigos e formamos uma banda de rock, demais! Uma pena que meus pais e seus vizinhos não apreciassem nossos ensaios... Logo depois começamos a tocar em festas e as garotas ficavam nossas fãs, era ótimo!

          Minha vida no Rio de Janeiro não agradava aos meus pais, muita praia e muito rock mas nenhum estudo, várias vezes eles contrataram professores particulares para que eu conseguisse passar de ano. Reconheço que dei muito trabalho, mas pelo menos naquela época não havia as drogas e a violência que hoje assola o Rio de Janeiro.

          Naquela época eu passava os dias na praia de Ipanema e na Pedra do Arpoador, nadando, mergulhando ou "pegando jacaré". Até o almoço era providenciado no mar, preparávamos mariscos ou comíamos um sanduíche Genial. Era uma vida saudável, ao ar livre e sem vícios, mas os estudos eram deixados de lado, apenas frequentava as aulas.



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