13.
A MUDANÇA PARA O RIO DE JANEIRO
(fatos ocorridos em 1959)
Depois
de cinco anos em Goiânia, onde construiu a sede do banco (o
maior prédio da Capital na época), meu pai foi transferido
para Copacabana, Rio de Janeiro (que na época era o Distrito
Federal, a Capital do Brasil). A primeira coisa que me espantou
foi a televisão, um cinema em casa o dia todo. Que hora eu
ia estudar? Depois foi o mar, meu Deus, que hora eu vou estudar?
Eu simplesmente não estudava. No Rio também fiz bons amigos,
José Carlos e seus irmãos Mário César e Tânia e seu primo
Alex eram os principais. Com eles passava o dia, brincando,
correndo, passeando, indo à praia. Éramos verdadeiros irmãos
(e ainda me considero). Nossas famílias moravam muito próximas
e iam juntas à praia, era uma farra.
O
melhor esporte de praia da época era o jacaré, espécie de
"surf sem prancha", no qual usávamos apenas nossos corpos
e habilidades. Depois surgiu a prancha de isopor, que queimava
o peito de quem a utilizasse sem usar uma camiseta como proteção.
Continuamos "pegando jacaré", porque a prancha era rápida
mas não nos permitia demonstrar nossas habilidades como o
jacaré. O jacaré oferecia riscos apenas para os praticantes,
enquanto as pranchas oferecem riscos aos freqüentadores das
praias.
Certa
vez eu peguei uma onda muito forte com uma prancha e a onda
me "virou" no caminho para a praia, onde uma família se divertia
bem no raso. Derrubei todos, as crianças começaram a chorar
e os adultos a me xingar, foi um fiasco. Um conselho que forneço
gratuitamente aos freqüentadores, novatos ou não, é não se
afastarem muito da areia, fica fácil fugir mesmo que ocorra
um maremoto. Geralmente as pessoas supervalorizam suas habilidades
e no mar isto geralmente é fatal. Passei apuros várias vezes
por este motivo e uma vez tive que ser retirado do mar no
meio de uma forte correnteza por um salva-vidas. Fiquei vivo
não porque fui esperto, mas porque aquela, definitivamente,
não era a minha hora.
Lembro-me
de que no primeiro dia em que freqüentamos a praia, eu e minha
irmã Marizete fomos acompanhadas por uma prima maior, Aída,
que já tinha alguma experiência com o mar. Enquanto minha
prima avançava pelo mar e minha irmã tentava alcançá-la, eu
fiquei em uma "piscininha" próximo à areia da praia. De repente
uma onda enorme escureceu o horizonte, eu comecei a gritar
para minha irmã vir para a praia, enquanto minha prima gritava
para que minha irmã chegasse até ela. Minha maninha, como
sempre acontece, confiou na pessoa de aparência mais séria,
e correu para os braços de minha prima, pobres coitadas...
Tive que pedir ajuda para levantá-las depois de rolarem por
vinte metros até a praia e depois de mais de quarenta anos
eu ainda estou rindo delas!
Naqueles
dias ainda não fumava (já deixei o vício), tinha
um pulmão de aço e conseguia ficar mergulhado por três minutos,
recorde absoluto da turma. Eu e meus amigos formamos um Clube
de Mergulhadores, inspirados pela incrível série de televisão
"O Mergulhador Submarino". Mergulhávamos, pegávamos conchas
enormes, Saltávamos da pedra do Arpoador e em suas grutas
caçávamos pequenos polvos. Eram dias incríveis, em que o Rio
era limpo e quase destituído de violência.