14. A JUVENTUDE
(fatos ocorridos entre 1959 e 1962)

          O Rio da década de 60 nos oferecia inúmeras diversões sadias e seguras e uma delas, não tão segura, era participar de um dos inúmeros clubes, formados por jovens de um mesmo edifício, de um mesmo quarteirão ou de um mesmo pedaço de praia. Eu participei de dois clubes em dois períodos distintos e foi muito bom.

          O primeiro, Clube do (Edifício) Miramar, reunia os garotos da Rua Joaquim Nabuco para animadas reuniões e para guerrearem com os garotos de outras ruas. Participei de apenas um combate, cometi um ato que foi considerado de bravura, mas não me machuquei. Foi uma batalha de paus e pedras, atirados a mão ou com estilingues . No segundo, Clube do (Edifício) Mamoré, embora lá não residisse (Esquina de N. S. de Copacabana com Joaquim Nabuco), fui aceito após ser indicado por um sócio e de passar por uma prova de coragem, queimando várias "mutucas" (cabeça de fósforo já queimado) em meu braço esquerdo. Nisto eu já era expert.

         Foi então que percebi ter abandonado a infância, meus "programas" agora eram totalmente diferentes e a conquista das "meninas" ganhava uma importância vital. E o melhor programa deste período, depois de se esbaldar na praia, era sair com a turma nas noites de sábado, procurando por uma festa. Bastava andar pelas ruas olhando para cima, onde tivesse muita luz, música e movimento, ali teria uma festa. Depois nos armávamos de toda a cara de pau que possuíamos e tocávamos a campainha do apartamento. Era só entrar sorrindo e abraçando todo mundo. Um ficava pensando que os convidados eram do outro. Aí era só comer, beber, dançar, aproveitar.

          Eram noites inesquecíveis. No decorrer da festa perguntávamos discretamente qual era o aniversariante e tratávamos de cumprimentá-lo efusivamente. Chegávamos a perguntar ao aniversariante se ele não se lembrava de nós, na praia... O coitado era forçado a admitir que nos conhecia, senão diriam que ele era um desmemoriado. Talvez fosse por este motivo que ficavam sempre nos convidando para suas festas. O clube nos oferecia oportunidades raras de diversão, especialmente durante os trotes dos iniciantes, que a cada dia ficavam mais engraçados para nós e mais terríveis para eles. Um dos trotes de coragem que inventamos foi o do "calção no mastro". O novato tirava o calção e, sem qualquer outro traje por baixo, o colocava em cima de uma das traves de vôlei da praia de Copacabana, depois corria nu até a sede do clube, a um quarteirão da praia, onde estavam suas roupas. O fato é que alguns de nossos trotes, nunca violentos, sacudiam a praia de Copacabana e, por pouco, nossos novatos não eram presos.

          Outro trote legal era mandar o novato derrubar um daqueles halterofilistas da praia e correr até se ver livre dele. Caso o cara alcançasse o novato, a turma toda entrava na briga para defendê-lo ou para, pelo menos, colocar "panos quentes" sem que o "hércules da praia" desconfiasse de nada. Quando terminou esta fase de clubes eu e meus amigos nos reuníamos no Arpoador para mergulhar, nadar e paquerar, nós não formávamos um clube, mas não faltávamos um dia sequer. Passávamos o dia todo no Arpoador e até o almoço era retirado do mar. Ainda nos vejo sobre as pedras e esta talvez seja a imagem do Rio que mais ficou gravada em minhas retinas.



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