33.
A MELHOR PARTE
(fatos ocorridos entre 1966
e 1969)
Aos
poucos os veteranos partiam e um dia percebemos que agora
os veteranos éramos nós. Foi neste período que começamos a
viver a melhor parte do internato e, talvez, de nossas vidas.
Uma das coisas que melhorava sensivelmente para os veteranos
era a liberdade, agora podíamos sair uma ou duas vezes por
semana, às tardes, e nossa "área de atuação" se estendeu pela
cidade toda.
Passeávamos,
bebíamos e namorávamos, finalmente nos sentíamos felizes.
De todas as experiências, as melhores eram as sexuais, que
relatávamos uns aos outros em ambiente de extremo segredo
e alegria. O interessante é que aprendíamos com os
mais velhos e ensinávamos aos mais novos com nossas expoeriências.
Era uma matéria importante no internato, num tempo
em que nem se falava em educação sexual.
Nossos
programas geralmente eram em grupo, primeiro porque nós éramos
muito amigos, segundo porque é muito mais animado. Geralmente
nós comprávamos um litro de Coca Cola, bebíamos um copo e
completávamos com cachaça. O coquetel recebia o nome de Samba.
O motivo da escolha devia-se aos miseráveis adiantamentos
que recebíamos do colégio (eles sabiam o que estavam fazendo).
Acompanhados das namoradas e de um litro de Samba, íamos a
lugares interessantes e solitários como o jardim da casa de
Santos Dumont ou a estradinha que conduz ao Santuário de Fátima,
que fica num morro de onde se avista toda a cidade.
Difícil
era descer a pé aquelas curvas, estando alcoolizado. Certa
vez meu pai, num raro momento de insanidade, me emprestou
o carro para ir a Petrópolis. Na ida não tive problema, mas
na volta reuni o alto comando e compramos um garrafão de vinho
para tomar no caminho. Acontece que havia muita pressão no
garrafão e quando o abrimos todo o interior do carro (inclusive
nós) ficou vermelho. Tive que passar todo o fim de semana
lavando o carro umas vinte vezes para aprender a não arranjar
confusão.
Nesta
época começamos a participar da banda, e o alto comando ficava
reunido na última fila da banda, a famosa "bunda da banda".
Eu e o 86 tocávamos tubinha e o 10 e o 46 tocavam tuba. Era
ótimo porque, além de termos privilégios especiais, participávamos
de excursões e paradas. Numa destas excursões, a uma cidade
vizinha, íamos na "lotação" do colégio tocando samba e aprontando
a maior farra.
Quando
chegamos, fizemos um desfile na cidade e depois fomos tocar
em um ginásio, onde jogaria o nosso time de futebol de salão.
Fazíamos muito barulho para atrapalhar os adversários e, de
quebra, ainda íamos brigar com a torcida deles, era bom demais.
Numa destas oportunidades eu empunhei a gloriosa bandeira
do Colégio São José e fui para cima da outra torcida. Se não
recebesse o reforço do resto da banda estava frito.
O
internato era um mundo tão vasto que dificilmente conseguiria
contar mais do que 50% do que ali se passou durante os três
anos em que o freqüentei. Havia um verdadeiro mercado negro
que vendia de cigarros americanos a uísque escocês, passando
por jeans importados e camisas Lacoste. Mas convém lembrar
que o mal, como o bem, existe em todo lugar, até em templos,
por isto o colégio não tinha qualquer culpa pelo que ali acontecia,
muito pelo contrário.
Nós
éramos revistados sempre que entrávamos ou saíamos e a disciplina
era rigorosa, mas não há como evitar este tipo de coisas.
O importante é que muito poucos aderiam a esta onda. Aproveito
para agradecer ao Dr. Mário, Diretor do Colégio, e a todos
os professores e funcionários pelas oportunidades que me proporcionaram
naquela Instituição, oportunidade de estudar, aprender o que
é certo e de me tornar um homem correto. Foi graças ao Colégio
São José de Petrópolis que consegui me formar em Direito,
realizando um velho sonho meu e de minha família, que minha
vadiagem no Rio de Janeiro estava me impedindo de realizar.