37.
SERENATAS E FARRAS
(fatos ocorridos entre 1970
e 1973)
O
que eu vou relatar agora aconteceu nos intervalos das apresentações
de nosso conjunto. Foi um período muito alegre, em que convivi
diretamente com o Marinho e o Luciano. Por falar no Luciano,
não posso deixar de declarar que ele é um fantástico pianista
e músico. Eu e o Marinho somos bons, mas o Luciano é bem mais
do que isto. Só para se ter uma idéia, ele foi um dos compositores
do Hino de Goiânia. Naqueles dias nossa diversão predileta
era levar as namoradas para saborear pizzas na Pizzeria 110,
acompanhadas de muitos chopes, Era um programa barato, delicioso
e muito divertido.
Outro
programa interessante era fazer serenatas. Certa vez eu afanei
um litro de uísque do meu pai, que estava viajando com minha
mãe, e tomei-o com o Luciano. O Marinho, que nunca havia tomado
uísque, tomou apenas um gole e ficou bêbado (como eu e o Luciano).
Acontece que havíamos marcado uma serenata com nossas namoradas.
Chegamos no pequeno muro da casa da Margarida, namorada e
futura esposa do Luciano, e preparamos os instrumentos.
Nas
serestas o Luciano tocava escaleta, o Marinho tocava violão
e eu fazia a percussão, seja com um pandeiro ou bongô. Os
risos começaram quando o Luciano pediu ao Marinho um acorde
de valsa e este iniciou um samba. Realmente esta foi a única
vez em que vi o baixinho bêbado. Quando finalmente conseguimos
iniciar uma mesma música o cachorro da casa avançou sobre
nós que, depois de jogarmos os instrumentos para o alto, corremos
mais de dez metros, até percebermos que o cachorro (miserável)
só queria nos assustar.
Ficamos
quase meia hora rindo de nosso infortúnio. Então entramos
no meu velho fusca 68 azul (que saudade) e nos dirigimos à
casa da Vera, namorada e futura esposa do Marinho. No meio
do caminho o baixinho (o trio era formado por dois baixinhos,
eu e o Marinho, e um gigante o Luciano) pediu que eu parasse
o carro para ele roubar uma rosa para a Vera. Parei o carro
e ficamos observando o Marinho pulando uma pequena grade.
Quando o danadinho tocou na rosa escolhida escutou-se um estridente
apito ferindo a madrugada, era um guarda de rua numa bicicleta.
Ele
passou a lanterna pelo jardim para ver se tinha alguém lá
(nossa atitude era muito suspeita) e o baixinho ficou imóvel
como uma estátua. Nós rimos tanto que tivemos até dor de barriga.
Daí a pouco o guarda foi embora (não conseguiu ver o Marinho)
e o baixinho chegou no carro com os olhos esbugalhados, foi
demais. Acabada a serenata com a Vera nós fomos embora. Eu
não ia arriscar mais uma serenata naquela noite indecente.
Um
dia, em reunião do Clube dos Castores, decidimos que iríamos
montar um acampamento na Rodovia dos Romeiros (Goiània-Trindade)
para ajudar os romeiros que fizessem o caminho a pé. O exército
montou uma grande barraca e eu, o Marinho, o Luciano e o Vasco
(presidente do clube naquela oportunidade) fomos passar a
noite lá, dentro do fusca, para vigiar a barraca. O Vasco
(cumpridão) ficou dormindo no volante comigo ao seu lado e
o Marinho e o Luciano atrás. Levamos muitas cervejas em uma
caixa de isopor, que ficava atrás do banco traseiro. Depois
de esvaziadas as cervejas decidimos dormir.
No
meio da noite acordamos com o Luciano pedindo para sair do
carro, estávamos sonolentos e não demos atenção ao fato. De
repente o Marinho grita: Meu Deus! Quando olhamos, o Luciano,
completamente bêbado, estava mijando bem no meio da rodovia
(que naqueles dias ainda não havia sido duplicada) e os carros
passavam tirando fino dele. Foi uma correria.
Na
hora de voltarmos ainda descubro que o Vasco havia dormido
com o pé sobre a embrenhagem, visto que ela estava afundada
no assoalho do carro. Conseguimos material de primeiros socorros,
sanduíches e a Nestlé nos ofereceu um filtro de vidro cheio
de leite com chocolate, pedindo que tomássemos muito cuidado
com o mesmo. Fomos para a rodovia e prestamos um serviço realmente
importante.
Mas
já estávamos na última noite e não tinha aparecido nenhum
ferido e todo mundo doido prá bancar o médico. De madrugada
aparece um bêbado que tinha caído em uma vala e nós, após
o enfaixarmos todo (igual a uma múmia) e o levamos felizes
ao hospital. Como estávamos preparados para transportar feridos,
a Polícia Rodoviária colou adesivos nas laterais dos nossos
carros para não sermos detidos em qualquer hipótese. Aproveitávamos
a impunidade oferecida pelos adesivos e voávamos a mais de
140 km/h (o máximo permitido era 80 km/h). Na hora de devolver
o filtro de vidro à Nestlé nosso amigo Valdomiro tropeça nele.
Até hoje a Nestlé não deve ter nos perdoado.