21.
A BELA ITÁLIA
(fatos ocorridos entre 1965
e 1966)
Por
mais que tentasse não conseguiria me lembrar de toda esta
aventura, afinal só na Itália nós passamos dois meses. Por
isto estou selecionando apenas as melhores partes. Lembro-me
de que meu tio Paulo insistiu em nos levar de carro até Veneza.
Aceitamos com prazer e numa bela manhã embarcamos rumo à Itália.
Fomos até Zágreb (de novo?), onde paramos para almoçar em
um belo e tradicional restaurante. Após o almoço, que foi
regular, pedimos um café, que foi servido em um conjunto todo
de cobre, antigo e bonito. Mas ao tomar o segundo gole minha
garganta se encheu de borra. O garçom se explicou: este é
o tradicional café turco, o melhor do mundo!
Quase
mato ele. Partimos em direção à Itália. Ao atravessarmos os
Alpes iugoslavos, a mais de dois mil metros de altitude, o
sistema de aquecimento do carro não foi suficiente e os meus
pés começaram a congelar, sendo necessário que meus primos
me fizessem massagens nos pés para que eu conseguisse continuar
a viagem. Depois de muitas horas de viagem vimos uma placa
onde estava escrito "TRST", era o nome da cidade italiana
de Trieste (na fronteira com a Iugoslávia) em Servo-Croata.
Alegria geral! Finalmente chegamos a Veneza, deixamos o carro
em um enorme prédio-garagem, tomamos um vaporeto, uma barca
muito parecida com um ônibus, e começamos a navegar pelo Grande
Canal.
Ao
nosso lado trafegavam todos os tipos de embarcações, taxis,
limosines, caminhões de transporte, de lixo, etc. De repente
o ônibus parou no meio do canal, eu fui olhar o que acontecia.
Era um sinal luminoso! Eu sabia muito sobre Veneza, seus canais,
história e tradições, mas nunca imaginei que encontraria ali
um sinal luminoso. Se você não olhasse para baixo, para a
água e para os cascos, pensaria estar em uma cidade comum.
Descemos na Praça São Marcos e começamos a passear por ali.
É uma cidade incrível com habitantes muito especiais.
É
necessário ter muita consciência para residir em Veneza, uma
cidade onde os problemas nunca são pequenos. Alguns dias depois
tomávamos o trem para Roma, uma Capital que impressiona por
sua história e por sua beleza. Na época pensava que
não existia lugar mais belo e gostoso de se viver fora do
Brasil do que Roma. Ao chegarmos procuramos por uma pequena
pensão no Largo Argentina (algo como Praça Argentina). Tínhamos
que subir três andares de escada para chegar à pensão, mas
valia a pena. Começamos a passear pela cidade e, para nossa
sorte, tudo estava ali, ao nosso redor: O Vaticano, O Coliseu,
a Piazza Navona com sua belíssima fonte e o palazzo da Embaixada
Brasileira, o Fórum Romano e o Castelo de Sant´Angelo entre
outros.
Um dia saímos à
noite para passear na Via Veneto, a avenida "quente" de Roma.
Quente porque é onde ficam as mais caras lojas, restaurantes
e boates e porque à noite as mais lindas prostitutas do mundo
ali desfilavam em seus jaguares, alfa romeos e mercedes. Quando
estava lá no final da avenida, me veio uma das mais violentas
dores de barriga que já tive. Parei um taxi e lhe pedi que
"voasse" até o Largo Argentina. Porque fui falar isto? Havia
me esquecido de que os motoristas de taxi da Europa são completamente
doidos. Esse taxi, a uns cem quilômetros por hora, começou
a serpentear pelas vielas de Roma, onde é preciso subir na
calçada para ultrapassar outro carro, e quando chegou à pensão
eu já havia me esquecido daquela dor de barriga...
Em
Roma saíamos a pé para passear e chegamos a percorrer vários
quilômetros de uma Via Romana, observando a bela paisagem
e a perfeição das estradas do Império Romano, que cruzavam
toda a Europa e partes da Ásia e da África. Mas os passeios
que mais gostávamos eram nos parques, museus e igrejas de
Roma. Ali encontrávamos obras as quais tínhamos visto apenas
em ilustrações de livros. Entre os parques o nosso predileto
era a Villa Borghese, encantadora com seu lago cheio de barquinhos
com casais de namorados.