16. A AMÉRICA DO NORTE
(fatos ocorridos em 1963)

          Em 17 de janeiro de 1963 cheguei com minha mãe e minha médica, Dra. Isabel, em Nova York, onde fizemos uma conexão para Washington, após aguardar algumas horas. Chegando na capital americana fomos nos hospedar no Windsor Park Hotel, um grande hotel que poderíamos classificar como de três ou quatro estrelas, instalado em frente a um lindo parque. Embora tenha passeado bastante, eu não fui aos Estados Unidos para fazer turismo e sim para fazer um tratamento no NIH - National Institutes of Health, na cidade de Bethesda, Estado de Maryland, que fica no que poderíamos chamar de Grande Washington.

          Este famoso centro de pesquisa era composto de treze prédios de dez andares, que situavam-se em meio a um extenso parque. Atualmente este parque não existe mais, pois o centro cresceu tanto e tantos novos prédios foram construídos que restou apenas vestígios da antiga área verde. Era um hospital totalmente diferente de tudo o que eu já havia visto, em suas próprias instalações os internos freqüentavam cinema, bingos e bailes e faziam cursos e outras atividades de lazer inclusive turismo na cidade de Washington.

          Entre as excursões que fiz com outros internos do NIH, destaco os inesquecíveis passeios ao Smithsonian Institute, ao excelente Jardim Zoológico e à Casa Branca, todos com direito a lanches e a compras. Nunca vi e creio que nunca verei um hospital como aquele, dava vontade de não sair de lá.

          O que motivou minha ida para o NIH foi uma deficiência na taxa de crescimento, que estava muito abaixo do normal. Naquele centro, após várias semanas de pesquisa, os médicos descobriram a causa do problema e aplicaram o medicamento que me permitiu crescer e atingir a estatura de um metro e sessenta centímetros, considerada normal.

          Outro aspecto que muito me impressionou no NIH foi a simpatia e a paciência dos enfermeiros e atendentes, fiquei amigo de vários e de um enfermeiro em especial, Sampsom, que me atendeu o tempo todo. Era um rapaz negro de cerca de 25 anos que, com sua amizade e simpatia, permitiu-me suportar bem melhor aquela estadia.

          Os médicos faziam tantos testes para tentarem descobrir a origem do meu problema que às vezes eu perdia a paciência. Uma tarde, após passar por inúmeros e cansativos testes que incluíam a aferição da pressão e da temperatura e cansativas entrevistas, que eram gravadas em vídeo, entrou no meu quarto uma enfermeira que eu ainda não conhecia empurrando um carrinho de chá que era utilizado para um teste de paladar.

          Eu já não suportava aqueles testes de paladar, quando eles pingavam gotas em minha boca e anotavam minhas respostas, eu deveria ficar respondendo se aquela gota havia sido doce ou salgada, ou amarga, etc. Então quando vi a nova enfermeira fui logo dizendo em português (elas nunca entendiam):
- Vá embora sua bruxa, estou cansado de suas porcarias!
Ela, indignada, respondeu em um português cheio de sotaque:
- Porrque o senhorr está xingando eu? Eu não fazerr mal ao senhorr!

          Ela.havia morado cinco anos em Recife e entendeu muito bem meu desabafo, deixando-me totalmente surpreso e atônito, o jeito foi pedir-lhe mil desculpas e explicar-lhe que aquilo era uma brincadeira que eu fazia porque as enfermeiras nunca conseguiam entender o português.

          Saí do Hospital e voltei ao hotel para passar alguns dias em Washington antes de retornar a Nova York. Entre os passeios que fiz incluo o hipermercado Giant (nunca havia visto um), que vendia de alfinetes a helicópteros passando por roupas, ferramentas e alimentos. Era enorme!



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